segunda-feira, 21 de julho de 2008

[jabá] Crônicas da vida (pós)moderna

CRÔNICAS DA VIDA (PÓS)MODERNA

Lançamento do livro Crônicas da vida (pós)moderna, obra coletiva dos alunos da disciplina "Ética, direito e pós-modernidade", ministrada na Faculdade de Direito da USP pelo prof. Eduardo C. B. Bittar em 2006.

Quando: 17 de agosto de 2008
Onde: Bienal do Livro de São Paulo (Anhembi), no estande da Editora Litteris

Inclui os textos:
Crônica dos Tempos - Eduardo Bittar
Vantagens Exclusivas - Flávio Batista
Boa Noite, Cinderela! - Franco de Castro
As Viagens de Noriyuki - Celso Kashiura Jr.
Proteja seus Filhos! - Nivaldo Dóro Jr.
A Mulher do Futuro - Luísa Helena
Pensando sobre o Tempo - Rosimeire Ventura
Sociedade da Ansiedade - Nivaldo Dóro Jr.
Vende-se um Líder - Marcos Braga e Wilson Levy
Dr. Hermes - Evandro Pontes
De Volta à Granja do Solar - Celso Kashiura Jr.
A Solidão da Metrópole - Pedro Albuquerque
- Fabio Antunes
Você Não Está Sozinho - Vitor Blotta

quarta-feira, 9 de julho de 2008

[NJ] Consumo e... solidariedade?

CONSUMO E... SOLIDARIEDADE?

Quem consome, consome para si – o consumo de um (ou de alguns) exclui o consumo de todos os demais. Parece, à primeira vista, não ser possível existir algo mais egoísta do que o consumo. Esta, no entanto, é uma visão parcial. Considerado o processo econômico por inteiro, o consumo é o ato final de uma longa série. Todo a cadeia de produção, que capta trabalho humano e materializa em coisas que se destinam ao mercado, de nada serve sem que as coisas produzidas sejam, ao fim, consumidas. O consumo individual se torna possível tão-somente por meio da ação de inúmeros homens – homens que trabalham, que produzem as coisas a serem consumidas e que, através de seus trabalhos, adquirem os meios para que possam eles mesmos consumir.

Na realidade, o consumo, o mesmo consumo que individualiza e exclui a fruição dos demais, é social e inclui toda uma rede de relações entre os homens. Mas este caráter social não pode ser exagerado nem confundido com bem-estar social. E exagero e confusão parecem ser precisamente os equívocos da tendência que, nos últimos tempos, tem propugnado a possibilidade um “consumo solidário”, isto é, a “domesticação” do egoísmo e a instrumentalização do consumo para a “solidariedade”.

Se é verdade que o consumo exige e realiza a socialidade dos homens, isto não quer dizer que tal socialidade reverta em favor dos próprios homens. O ato de consumir só pode ocorrer numa rede de relações sociais, mas a sociedade a que tais relações correspondem é uma sociedade que domina os homens ao invés de ser por eles dominada. O consumo é a derradeira e indispensável etapa do ciclo de valorização do valor, é o meio pelo qual o trabalho não-pago incorporado em mercadorias se torna incremento do capital – o consumo é, portanto, a realização do movimento essencialmente coisificador e degradante da grande “máquina” do capitalismo.

Não há dúvida: qualquer iniciativa que vise levantar oposição à febre consumista contemporânea é bem-vinda. Criar alternativas ao consumo cego e desmedido e buscar consumir menos, radicalmente menos, são propostas muito interessantes. Não é razoável, porém, supor que por tais meios alguma mudança social efetiva será alcançada. No fim das contas, os alimentos orgânicos, o papel reciclado, o carro que polui X% menos e tudo mais que carrega o rótulo de “sustentável”, “ecologicamente correto” ou “socialmente solidário” só faz incentivar o consumo ao invés de refreá-lo. A percepção de que os recursos naturais têm fim, por exemplo, não leva necessariamente à desaceleração da economia, mas, por paradoxal que pareça, gera uma série de novos nichos de mercado para mercadorias que dizem ser produzidas com respeito ao meio ambiente. A “solidariedade” parece ter muito mais a ver com o marketing do que com qualquer melhora na vida de qualquer homem concreto.

Uma vez que o acesso a todos os bens elementares para a sobrevivência só pode ser dado pelo consumo (a não ser que alguém plante a própria comida no quintal de casa, o que é cada vez menos imaginável nos dias de hoje), a nenhum de nós é dada a opção de não consumir. Mas se não consumir não é uma opção, o “consumir com moderação”, por outro lado, apenas limita os efeitos deletérios do consumo desenfreado, sem com isso atingir a causa mesma. Pelo contrário, a idéia de um “consumo consciente” propõe a afirmação da estrutura social dada como forma de oposição a ela, algo como jogar de acordo com as regras como forma de oposição ao próprio jogo. Mesmo sem os apelos publicitários, mesmo sem a compra compulsiva, mesmo sem a perda do senso do banal e do efêmero, ainda assim o consumo é parte de uma organização social desumanizadora e, portanto, é desumanizador.

O limite da “consciência” e da “solidariedade” do consumo é precisamente o fluxo ininterrupto do consumo, que é indispensável à multiplicação do capital. A única “solidariedade” que o consumo pode realizar é, portanto, a “solidariedade” do capitalismo – que não é outra coisa senão a extrema anti-solidariedade. Por isso, para toda e qualquer crítica social que se leve a sério, a aposta no “consumo solidário” é como um tiro no próprio pé.

[Publicado no NOVO JORNAL de Dracena-SP em 06/07/2008]